Em conversa com Isabele Ribeiro, co-idealizadora da Feira da Gambiarra, Breno Garibalde discute o futuro da economia, sustentabilidade e a ocupação da cidade como elementos centrais dos desafios do presente e do futuro
Desde 2012, Aracaju vem experimentando novas relações de ocupação da cidade. Exemplo disso é a Feirinha da Gambiarra, que começou como um brechó, no bairro do São José, mas que logo tomou ruas, praças, bibliotecas públicas e parques ao sentir a demanda por eventos criativos crescer vertiginosamente.
Em pouco tempo a marca sergipana “Estúdio Gambiarra” virou referência no Nordeste pelo trabalho inovador no mercado de Economia Criativa e Circular. Com o desenvolvimento de projetos de impacto como feirinhas em espaços públicos, metodologia de desenvolvimento sustentável, cursos, consultorias, loja colaborativa, dentre outras iniciativas, vem contribuindo diretamente para o fomento do empreendedorismo e valorização do pequeno empreendedor.
Além de empresária e arquiteta, Isabele é bailarina. Ao lado de seu sócio, que é músico, conseguiu juntar arte, cultura e economia num evento só. “Percebemos que Aracaju precisava de algo assim porque não existia nada parecido e depois de conhecer feirinhas em outras cidades do Brasil decidimos trazer pra cá como um evento sempre aberto, acessível e gratuito. A divulgação online e boca a boca fez a Gambiarra crescer rapidamente e de forma orgânica”, contou.
Se no início eram 12 expositores, hoje são mais de 90 pequenos empresários e artesãos envolvidos no projeto. “Cada feirinha movimenta cerca de 9 mil pessoas e mais de 220 mil reais, mas ainda encontramos muitas barreiras. As maiores são a burocracia da prefeitura e a falta de recursos para ampliar, trazer novidades, novos artistas e melhorar a experiência como um todo.”
Para Breno Garibalde, arquiteto e urbanista, é preciso desburocratizar processos públicos para impulsionar o mercado de Economia Criativa e Circular em Aracaju.
“O setor da criatividade e inovação tem muito a contribuir diante das crises sócio-econômica e ambiental do nosso tempo. Somos um povo muito criativo que se vira, empreende, se reinventa e toda essa tecnologia social poderia ganhar escala, gerar mais empregos e oportunidades, principalmente para os jovens das periferias que muitas vezes não encontram espaço no mercado formal”.
Segundo Isabele, além da burocracia pública, existem dificuldades para conseguir a liberação do uso do espaço e suporte de estrutura, como organização do trânsito, pontos de energia, separação de lixo e disponibilização de banheiros. “São muitas secretarias envolvidas. Para cada evento mandamos, pelo menos, 10 ofícios para diferentes órgãos da cidade. Poderia ser mais fácil e eficiente o processo, inclusive para estimular novos eventos assim, de interesse público, gratuitos e que movimentem o mercado e o turismo em Aracaju”, explicou.
“Seria interessante existir dentro da Prefeitura de Aracaju um órgão centralizador, que pudesse otimizar um sistema interno de autorizações e informações que facilitasse o diálogo. É preciso um entendimento que o espaço urbano é de uso público e eventos como a Feirinha da Gambiarra trazem inúmeros benefícios diretos para a cidade. Quanto mais barreiras, menos dinheiro e menos economia girando na cidade”, ressaltou Breno Garibalde.
Desafios no cenário da Economia Criativa em Aracaju
Além da burocracia e falta de recursos, outros três pontos são cruciais no campo do desenvolvimento da economia criativa na capital: ausência de dados, profissionalização e sustentabilidade.
“Sabemos que estamos no caminho certo, mas sentimos ainda que pisamos em terras desconhecidas por causa da falta de dados sobre o assunto e sem esse levantamento não se faz nada, não se consegue saber o que está acontecendo nem pra onde devemos ir”, afirmou Isabele.
Diante disso, a Gambiarra lançará em breve um Mapa Cultural e de Economia Criativa em Aracaju, com informações e números de quem empreende nesse setor, desafios e oportunidades para compreender o cenário e projetar políticas públicas.
“É importante saber que não dá mais para fazer nada sem ser sustentável, sem ter a sustentabilidade como prática ou em perspectiva. Todas as empresas que nascem têm que já ter o crescimento social e sustentável na veia. Vejo que o público está cada dia mais seletivo e exigente, sobretudo essa nova geração”, concluiu Isabelle.
A cidade é sua! Ocupe!
Iniciativas como a Feirinha da Gambiarra são tendência global e representam uma mudança cultural importante em diversas cidades onde o conceito de “outside” ganha mais adeptos.
A tendência também é sentida no urbanismo. “Ocupar a cidade torna ela mais segura e viva, é preciso consciência disso. A experiência ao ar livre tem muito a nos ensinar sobre sustentabilidade, convivência, conservação histórica, segurança e cidadania. Não tem como ter uma cidade com qualidade de vida sem ocupar seus mais variados espaços e explorar oportunidades antes não vistas. O poder público precisa favorecer e não atrapalhar essa transformação inevitável das cidades”, concluiu Breno.
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